22 junho 2023

Travessia


Diga-se de passagem que a vida é travessia,
Entre idas, respira, e vindas, passageiro
Sempre pela visão do terceiro,
Mas é em meus passos que faço arte e poesia.

Nunca viste o que jaz do meu coração,
Que em prantos pediu socorro,
Do precipício um grito d’alma, doloso
Em vida, travessia é mais que passos, é aceitação.

Vinde a mim tudo o que me mata,
Sangue na taça e sorrisos cansados,
Letras em papéis um dia queimados
Valendo mais do que seu ouro, sua prata.

Ancorada no sonho, me exponho
Vidrada na tez do meu algoz,
Seus cânticos sereianos atroz,
E em réu primário deponho.

Malditos espelhos d’alma,
Finalizei as cartas da mesa em segundos,
Dias, meses e anos oriundos
Vividos de sangue e traumas.


Débora Cristina Albertoni

07 abril 2023

Olhos fechados



Deuses em dias claros levantam vinhos
Nublados, em negro céu erguem as mãos
Cura do passado não sobrepõe esses vãos
Marcados com sangue nos caminhos.

Os olhos vêem mas a alma enxerga,
Passos dos antepassados
Acorrentados e alastrados
Na vida, no nó que se posterga.

Meu coração é ferro
Que fundiu na base de damasco
Chega de nó, chicote e carrasco,
Que suga um grito, de vida, um berro.

Passa vida e você nem vê,
Olhos que enxergam em pupilas dilatadas
Poucos vêem as correntes passadas
De mão a mão o sofrimento é clichê.

Rimas oriundas do que se sente,
Em passos e cordas no pescoço
Que lá dentro do poço
A saída não é para cima, é na mente.

Antes que eu vá,
Axé nos pés e coração nas mãos
Leve na saia, roda em bençãos
Antes que meus olhos se fechem, se vão.

Débora Cristina Albertoni

22 janeiro 2023

Deboche elaborado



O que esperamos da vida senão um deboche bem elaborado,
Sem pedir licença ela salga,
Molha a face do digno e do passado
Só para lembrar da dor e da mágoa.

Pedi há anos, perdi, morri
E nas águas de mim chorei, quebrei,
Gritos internos que meus olhos abafavam
Na mágoa da insuficiência me despi.

Dias fúteis de brilhos e sons alucinantes
Busquei o que nunca encontrei em mim,
Na vida, no luxo, na música, fascinantes
São as coisas que fazemos pelo vazio de não pertencer.

Em últimos suspiros pedi socorro,
A vida me depôs em réu primário
Lembrando que tudo é temporário,
E a cada dia de vida, eu morro.

Pedi pro universo que me curasse
E em prece chorei meu desespero,
Salgadas são as águas do coração,
Um certo descontrole de exagero.

A fração do que imaginamos com força
Vem como lírio d'água na fome,
O enjoo de desgaste no pronome
Despe Minh 'alma com nuança.

E assim que o sol brilhou na alma,
O corpo reagiu ao réu do passado,
Cansado já da força sobreposta
Morreu a esperança em um suspiro calado.


Débora Cristina Albertoni

17 janeiro 2023

Palha de brasa


Chamam olhos para ver no espelho
D'alma que tuas fases, faces
Traçam a vida no teu reflexo
Buscam ódio, flores, classes.

Arruma o cabelo, passa o batom,
Alma que jaz naquilo que esconde
E nas máscaras que aprendi a pintar
Em ouro, prata e bronze.

Danço ao som do desespero
Que criei nas raízes do suborno,
A meus fracassos: adornos,
A minhas vitórias: efêmero.

Adiciono ao vocabulário: "perfeccionismo"!
Em suma supro o que falta no caos,
De cacos em cacos, conformismo
E em caos a cabeça, mente.

Sanidade é pulverizada na raiz do humanismo,
E humanitarismo é fachada
Criada pela ordem da caridade
Que de sangue a história está marcada.

Segue a vida, alecrim dourado nasce no ninho,
Cria asas em apoio do galho,
No subúrbio o galho debaixo da asa
Segue a lança na árvore de Carvalho.

Raiz da tua alma segue em fogo,
Queima os olhos em brasa,
Tua mente em jogo
E no coração... Palha!


Débora Cristina Albertoni

30 agosto 2022

Aquilo que não é visível



Amostras de uma vida fútil
Vem me assolar as escolhas,
Carregadas de listas e folhas
Para papéis de demanda inútil.

Busca felicidade no verde errado
E em suma, banca o desespero
De uma alma em exagero
Que sai mais caro que comprar fiado.

Segue pelas margens dos falsos objetivos
Seria a felicidade posta um preço?
Assim como o sorriso pelo adereço
Em pessoas e objetos respectivos.

Felicidade não é um prato visível,
Coração calmo e vida preenchida
De amor e parceria recebida,
Pois oferecemos aquilo que nos é compreensível.

Débora Cristina Albertoni


15 agosto 2022

Ao som da tua imensidão


Caminhos em tambores,
Seguem rumo ao som dois cantos
De rouxinol para meus amores,
Derramam em melodia teus mantos.

Canto aos cantos pela tua beleza
E formoso céu busco a Lua,
Choras por quê minha riqueza?
Por quem trilhou todos os caminhos da rua.

Vinde a mim tua imensidão
E apoia-te em meu ombro tuas fraquezas,
Que de mim levo embora preocupação
E trago em retorno delicadeza.

Chegue aos meus braços homem dos meus olhos,
Te acalme no som do meu coração,
Cansados são teus olhos da vida dura
De quem já viu a morte, crime e solidão.

Busco teus sorrisos em meio ao caos
E nas beiras do precipício te puxo para longe
Que a recíproca foi igualitária,
E de caos em dez, eu fui onze.

A loucura é compreendida pelos seus,
Quem é de verdade sabe quem é de verdade,
E em verdade te ofereci meu coração,
E como um pássaro, não te fiz gaiola, te fiz verão.


Débora Cristina Albertoni

26 junho 2022

Olhos castanhos



Olhos marejados e calados
Que em vão buscavam um fim,
Chegaram com nós desatados
De uma vida sofrida por momentos ruins.

Desatinos teus que na luz buscava,
Em palavras de dor e solidão,
Calado nas noites afora sonhava,
"Olhe para o céu!", "Respira", "Pegue minha mão!".

Acelera o compasso desse motor,
E no coração o compasso foi junto,
Quero ver mais desse sorriso encantador
Pelas noites afora de diversos assuntos.

Descomplicado este reflexo que vibramos
E me peguei querendo mais de ti,
Teu sorriso sincero e abraços criamos
Um mundo só nosso que pro universo pedi.

"Se achegue" em meus braços de paz,
Hoje vejo teus olhos falantes
E um sorriso de quem na luta se faz
Tão simples, tão lindo, constante.

Castanho como as montanhas e suas fissuras,
De caminhos sofridos pelo coração grande,
Mas por onde a luz passa: Brilha!
Brilha! Em luz pura e elegante!


Débora Cristina Albertoni





20 abril 2022

Além



A etiqueta dos politicamente corretos
Me desafia a ligar o botão,
Vinde a mim o bordão
Dessa criação de analfabetos.

Seca as lágrimas das tuas contas
Tu que desconta as piras do teu ego,
Mancha a pupila com teu olho cego
Atira a primeira pedra por afrontas.

Ganha vida em forma de carrasco
E elimina o pobre do caminho,
Riqueza é inimiga do passarinho
Que pensa que voa além do penhasco.

Mas pensa que a vida é passagem,
Fica mais leve ser guiado por Algo
Mal sabe que àquele fidalgo
Te ganha na riqueza da sabotagem.

Segue teu caminho e cabeça baixa,
Caixa de madeira te espera
O que te mata em vida sincera,
Não espera que tu se encaixa.

Mas voa passarinho além,
Suba o quanto puder
Porque mesmo se muito quiser
Se não der "paciência", e se sorte "Amém!".


Débora Cristina Albertoni







18 abril 2022

Em vão



Dizem que na vida temos três amores,
Em vão distribuem entre as decepções
Até aprender que a maioria são paixões
Atribuem ao amor as suas dores.

Dizem que amor por si só não dói,
Em partes de quem já doeu muito
E doou mais ainda
Em partes pelo que se constrói.

Quem disse que sentir o mundo a flor da pele é ruim?
Que flor que não renasce nas estações?
Ou que pulsa as emoções,
Ou em vão se deleita no próprio jardim?

Apaga as expectativas da tua insanidade
Que o mundo não prega tua imaginação,
Nem força, nem forca, nem paixão
Se entrega ao que sofre tua hostilidade.

Em suma, tua entrega é determinada
Em busca teu vão amor,
Seca tuas pétalas a seu favor
Ou a força te reduzirão a nada.


Débora Cristina Albertoni







Nem brasa



A vida segue com reticências
Em vielas do meu ego
Que em vistas ficou cego
Pelas memórias em abstinências.

Sua paixão e fogo faz falta,
E meus braços em sofrimento se abaixam
Não em prece, nem em mãos que se encaixam,
Decidiu não ser o fogo que me exalta.

Busquei em vãs migalhas,
Santo sabe que esperei em vão,
Nem de frente e nem de contramão
Nem palavras rechaçadas em talhas.

Segui o intuito de buscar-te em histórias,
Mas as palavras amarelavam conforme lia
Brancas eram as flores que me oferecia
E amarelas ficavam nas memórias.

Tu que me mostrou a tábua rasa
De uma mente latente,
Um ego prepotente
Que nem queima, nem brasa.


Débora Cristina Albertoni

12 abril 2022

Aquilo que consome


Jogos emocionais que me distraem
Do seu modus operandi de negação,
Plasmo em mim a terrível intuição
Se me matam ou me atraem.

Esse sentimento que consome,
Não diga que não te magnetiza
Nem que nega ou sistematiza,
É mais do que fazer teu nome.

Carrasco dos sentimentos alheios,
Sistematiza e profere tuas jogadas
Liberdade acima segregadas
Dos teus limites e devaneios.

Segue a vida que a expectativa não te diz respeito
Nem teu sentimento que abrasa
Ou em fogo me consome com graça,
Mas "me deixa", é teu jeito.

Não é em expectativas que me teima
Nem em frieza que já espero
Mas mata esse mistério
Antes de ser o fogo que me queima.


Débora Cristina Albertoni





31 março 2022

Facetas



Àquilo que tange minhas facetas
Há de fornecer um falsa impressão,
Em calmaria vai disfarçar a sugestão
De uma mente cheia de memórias obsoletas.

Margem dos pensamentos em mistério
Uso as palavras como profissão
E os olhos observam a multidão
No julgo das faces com seus critérios.

Será a vida facetas em forma?
Mais que o raso não mostra a face,
Se o profundo não faz seu desenlace
Em memórias rasgadas que a lembrança deforma.

Os cortes são profundos
E na pele do coração me rasgam,
A ansiedade da mente constante postergam
Os surtos de infinitos segundos.

Ser livre seria cruel ou seria bondade?
Livra-me das cruéis faces
Que com seus impasses
Leva a particular ruína da falsidade.

Vive os projetos em sequências cansativas,
Liberta os podres dos deveres
E da alma seus poderes,
No enlace das facetas permitidas.


Débora Cristina Albertoni





10 março 2022

"Em-cantos"




Sigo os ventos da minha liberdade
Da alma, das ideias, da vida,
Que mais parte em passagem de ida
Espelhando-se em sublimidade.

Nessa gama de reflexos borrados,
Em exemplos ovacionados e parte que o ego transporta
E em parte o que não importa,
Calos calados em óbitos sussurrados.

Segredos ao vento das vontades que me chamam
De traidora por não canonizar santos,
Das suas tramoias e bajulações dos céus "em-cantos",
Que com teus braços elevados se autoproclamam.

Gritam cânticos em prol de guerra,
Mesmo que o céu arda em chamas
Ou nos braços de Morfeu me entregue,
Não se importam se é vida nos pés ou pedras na terra.

Dá-me o fogo do coração
Se em chamas vou morrer,
Que nem as águas se achegarão
No âmago desse fortuito momento de que quero me esquecer.


Débora Cristina Albertoni


Grandes questões




A ansiedade do mundo sobre cai na minha cabeça,
E os anseios de respostas me martirizam
Em constantes linhas de pensamentos se enraízam,
No antro das raízes por definição.

O universo tem lá sua matemática,
E físicos e filósofos constroem seu significado
Carregado de incertezas no caótico
Mundo de cabeças pragmáticas.

Tivemos que criar deuses pra significar algo
Em vida, e somos pisoteados pela injustiça
Causada pela própria sociedade em que tudo cobiça
Nas tuas terras por definição de um fidalgo.

Tira essa tua amarra e seu "amém",
De tudo o que te dizem em vida
A morte é a única certeza que se tem!


Débora Cristina Albertoni

03 fevereiro 2022

Prisões libertárias



Livros são almas aprisionadas
Em formas de libertação,
Literária, literal e amarração
Que tece nós e laços nas mentes sucateadas.

Adoráveis são as histórias
Tecidas nas linhas do imaginário,
Formas de um mundo extraordinário
Ou tecidas em extraordinárias memórias.

Palavras que dirigem filmes emocionais,
Saudade de olhar para cima e levantar os braços
Em gesto fraterno da boca e lábios,
De momentos e frases convencionais.

Saudade do fogo e do vento
Movendo as borboletas do corpo,
De ser meu próprio porto
Da liberdade em solidão e alento.

Aurora dos meus momentos mais vis,
Tempo este que corre e decorre contra
Tudo o que sempre quis,
Em parte, verdade, em suma, afronta.

Descuido meu em parte do romance,
Em amor me ludibrio em doces palavras
Providas de marca-páginas
De um livro fora do meu alcance.


Débora Cristina Albertoni








08 janeiro 2022

Arte



"As palavras tem poder" uma vez me dito
E claro, em posse dessa imagem
Me beira a falha da paisagem
Que poderia obter sem dizer absolutamente nada.

"Nada" é a ausência de algo?
Tanto silêncio cheio de significado,
Tantas palavras vazias
Desde o culto à porcarias.

Expressão é mais do que falar
Na mão o artista, de entrega ao expressar
Tudo o que vêm do coração.

Se as palavras lhe faltam,
Não é vocabulário que lhe convêm
Mas a expressão é da arte da aceitação.


Débora Cristina Albertoni




Ode de despedida



Na mata do meu querer,
Oh! Meu bem, me despeço
De cada momento de vida funesto
Que guia a chama do meu viver.

Vida esta cheia de amargura
E amor, mágoas e rancor,
Em linhas tênues e laços,
De amassos, abraços e ternura.

Seja livre que for, em público ou solitariamente
Busco meu "contentamento descontente";
A alma do meu viver.

E pela alma me despeço
Em pedaços solitários de poeira do universo,
Vêm a mim a morte do meu sofrer.


Débora Cristina Albertoni

03 dezembro 2021

Memento Mori



Dentro das entranhas do ser que me habita
Vêm uma sombra que se espreita
Move-se de forma clara e concisa
Como um visgo do diabo à esgueira.

Em um furacão me abraço
Com os braços ao redor do que me faço
Ver de uma forma realista
Tudo o que se move no encalço.

As estrelas se movem da mesma forma?
A vida segue e o tempo...
Ah! o tempo... Esse tempo que se adorna
com o sofrimento alheio à realidade que te rodeia.

As entrelinhas vivem nas suas digitais
E nessas são as tuas marcas da vida que te extrai
Tudo aquilo que se deixa morrer.

"Memento Mori" já outrora dito
A realidade é essa e doa a quem doer
A vida é sua história de morte
E a morte por si só te reflete a sorte de poder viver.


Débora Cristina Albertoni

23 novembro 2021

Expectativas



Seria ilusão o prato que se come frio?
Muito se têm de análises
Alimentadas com o tempo nas suas paráfrases
Em parte com o que se diga "civil".

Os ventos de julho já chegaram e aqui estou
Em prantos, sorrisos ou horrores,
O tempo não se diz espaço e nos vãos me retiro
Das suas paráfrases, ficarei nos bastidores.

Remoer o que se dói é como viver novamente
A dor de se sentir impotente
Diante da ilusão das suas expectativas.

Assim como a lua tem suas fases,
Suas atitudes são perspicazes
O que é a vingança dentro de outras perspectivas?


Débora Cristina Albertoni

22 novembro 2021

Poeira Estelar




Escarra-se na face que me trai em prantos
E nestes sentimentos levianos,
De montes e monstros em meu Ser
Que se deixa escorrer como fluidos newtonianos.

Como poeira estelar me entrego
De braços abertos ao gerador do universo,
Em supernovas me desfaço em poeira
E em camadas me disperso.

De tempos em tempos me renovo em poesia,
E em supernova posso criar outros universos
Levam um pouco de mim e do outro fica um pouco
Na deformação leve de uma estrela já tardia.

A gravidade das minhas Ações se tornam fluidas
Para quem se permitir a ousadia,
De tantas falhas e esperanças frias
Onde no coração se fez do tédio moradia.

Como um universo em particular,
Vejo a forma que escolhi tudo ver
E apesar de tudo, a fusão nuclear 
Aumenta a deformação do espaço do meu ser.


Débora Cristina Albertoni